Cidade Dormitório

Resultados

Esta investigação se foca em duas áreas da população de Ciudad del Plata: Delta del Tigre e Penino-Autódromo. O Ministério do Meio-Ambiente projeta para 2100, e diante de eventos extremos, que estas zonas poderiam se inundar.

Aproximadamente 200 hectares de áreas planas de inundação na área do Delta del Tigre seriam inundados, deslocando mais de 3671 pessoas (1908 mulheres e 1763 homens) de suas residências. Em várias áreas, a água cobriria completamente as casas, causando desocupação temporária.

Da mesma forma, em 200 hectares da área costeira de Penino-Autódromo, moravam em 2010 cerca de 1446 pessoas, distribuídas igualmente entre mulheres e homens (720 e 726, respectivamente). Diante de um potencial aumento do nível do mar devido às mudanças climáticas, 80% da população (1157 habitantes) da área seria deslocada e suas casas ficariam quase totalmente submersas.

Entre as duas regiões, 4.828 residentes numa área que abrange 400 hectares teriam de ser evacuados.

Os bairros Penino e Autódromo Nacional se caracterizam por construções simples de concreto e áreas menores com assentamentos sem saneamento. O Delta del Tigre é dividido entre a área de moradias simples de concreto e residências maiores e mais caras, com ancoradouros para barcos de diferentes tamanhos.

Como aponta o relatório do Instituto Nacional de Estatística do Censo de 2011, "a migração interna é o componente da dinâmica demográfica que mais influencia as diferenças no crescimento populacional observado por departamento. Os três departamentos com maior crescimento populacional entre 2004 e 2011 (Maldonado, Canelones e San Jose) são os que tiveram saldo migratório positivo desde 1996, sendo também os únicos com uma porcentagem da população nascida em outro departamento superior à média nacional".

Mantendo essa tendência, comunicações recentes dos resultados preliminares do Censo de 2023 indicam um aumento significativo da população na Ciudad del Plata devido à migração da população de Montevidéu e áreas circunvizinhas, tornando altamente provável que o número de pessoas afetadas supere as estimativas.
Este estudo possibilita não apenas visualizar quantos residentes serão afetados por inundações, mas também como suas residências serão afetadas. O modelo 3D gerado facilita a identificação dos níveis de água (altura) na praia, nas dunas, nas reservas naturais, nas áreas industriais e nas escolas.

Tecnologias para mapeamento de alta resolução

LiDAR (Detecção e Alcance de Luz) é uma tecnologia de detecção remota que usa pulsos de laser para medir a distância entre uma fonte de luz e um objeto na superfície da Terra. Essa técnica é baseada na medição do tempo que a luz leva para refletir no objeto e retornar ao receptor. As reflexões são registradas como milhões de pontos individuais, coletivamente chamados de "nuvem de pontos", que representam as posições tridimensionais dos objetos na superfície.

O mapeamento de enchentes e sua simulação dependem em grande parte da precisão dos Modelos Digitais de Elevação (MDEs) disponíveis. Um modelo digital de elevação é uma representação visual e matemática das alturas do terreno em relação ao nível médio do mar, que facilita a caracterização das formas do relevo e dos elementos presentes. Os modelos de superfície obtidos a partir de sistemas LiDAR permitem obter uma projeção precisa do que acontecerá na superfície do terreno diante de certos cenários climáticos.

Um sensor LiDAR montado em plataformas como drones ou aviões é conhecido como LiDAR aéreo. Neste trabalho, o nível da água e suas variações laterais são simulados em 3D com o objetivo de visualizar o efeito do aumento do nível do mar diante de cenários climáticos (E10 TR500) em duas áreas urbanas do Uruguai: Penino e Delta del Tigre. Para isso, foram realizados levantamentos aéreos com LiDAR em drones em mais de 75 hectares, que foram usados para criar MDEs e Modelos de Superfície de alta resolução, além de visualizações 2D e 3D a partir de nuvens de pontos.

Os MDEs foram comparados com os já existentes no IDEuy (https://visualizador.ide.uy), e os dados cartográficos gerados pelo Instituto Geográfico Militar do Uruguai. Na modelagem 3D, foi incorporada a camada de inundação E10 TR500 elaborada pelo Ministério do Meio Ambiente do Uruguai e imagens de satélite com resolução de 3m por pixel da Planet e Google Earth. Para simular o aumento do nível do mar, as elevações afetadas pelas curvas de inundação (NAP costas, 2019) foram comparadas com a topografia gerada a partir dos levantamentos LiDAR. Além disso, os dados populacionais mais recentes (INE, 2011) e os estabelecimentos de referência, como escolas, serviços de saúde e indústria, foram integrados.

Causas das enchentes

As enchentes são os eventos hidrometeorológicos mais frequentes no Uruguai, causados por vários fenômenos.

Sudestadas: Eventos climáticos associados a ventos que sopram do sul do Rio da Prata em direção à costa, causando aumentos no nível do rio e entradas de água na cidade. As localidades costeiras frequentemente são afetadas por essas situações.

Enchentes de margem: Ocorrem devido a transbordamentos de rios ou riachos, tanto pelo enchimento de seus leitos quanto pelo avanço em direção a planícies de inundação. A urbanização está diretamente relacionada a essas enchentes, onde a cheia do rio atinge áreas construídas nas planícies de inundação.

Enchentes devido a rompimentos de obras de proteção: Relacionadas a falhas em diques ou barragens, essas enchentes afetam cidades localizadas a jusante dessas obras.

Por que o cenário mais pessimista tem chances de se concretizar?

Para analisar a Cidade del Plata, foi realizada uma análise geoespacial cruzando a base de dados do Censo populacional de 2011 do Instituto Nacional de Estatística (INE) com a linha de inundação publicada pelo Ministério do Meio Ambiente, modelada para o cenário climático mais extremo (E10, TR500), usando Sistemas de Informação Geográfica.

Os governos de 194 países concordaram, em 2015, em tomar medidas urgentes para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Eles pretendem que até o final do século a temperatura média global não aumente mais de 1,5°C acima dos níveis pré-industriais.

No entanto, as medidas tomadas até o momento têm sido insuficientes. Com o nível de compromissos climáticos verificados em 2021, projeta-se um aumento na temperatura de 2,8°C até o final do século, de acordo com o Relatório de Lacunas de Emissões de 2022 do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.

A comunidade científica global alertou que se a temperatura média do planeta aumentar mais de 2°C, as consequências para o clima e os ecossistemas serão graves e irreversíveis.

Para alcançar a meta, os países devem consumir menos combustíveis fósseis. No entanto, as emissões de CO2 resultantes da queima de combustíveis fósseis e do uso da terra, como odesmatamento, aumentaram este ano em cerca de 1% em média, com base nas projeções do Projeto Global de Carbono. O painel climático das Nações Unidas advertiu que os gases de efeito estufa precisariam diminuir em 43% para limitar o aquecimento global a 1,5°C e evitar os impactos mais graves.

A Organização Meteorológica Mundial estimou que a temperatura média global para 2022 já é 1,15°C superior. Uma temperatura dessa magnitude acelera o derretimento das massas polares e geleiras, aumentando o nível do mar, o curso dos rios e a ocorrência de eventos climáticos extremos adversos, como secas e inundações, ondas de calor e de frio, tempestades tropicais e ciclones.