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Story Publication logo April 7, 2024

The World’s Largest Mangroves Are Threatened by Climate Change (Portuguese)

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rainforest
English

This project will cover the environmental and socioeconomic activities on Brazil's northern coast.

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Image courtesy of Folha de S.Paulo.

An English summary of this report is below. The original report, published in Portuguese in Folha de S.Paulo, follows.


Conservation units created in the 2000s hold back the advance of predatory activities.

BRAGANÇA (PA) and ILHA DO MARAJÓ (PA)—Muddy soil. Smell of sulphur. Trees with tall roots, capable of expelling excess salt from the soil. At first glance, it's hard to believe that there is such an exuberance of life in the mangroves, but they are much richer in biodiversity than you might think.

In an area that stretches for almost 8,000 km along the northern coast of Brazil, from Amapá to Maranhão, there are mangrove forests with trees up to 40 meters high. In this region, the mangroves become a rich and biodiverse ecosystem.

Mangroves are areas where fresh water from rivers meets the sea and are typically tropical coastal ecosystems. They do not exist above a certain latitude where there is a strong temperature variation.
They are also home to various species of animals, both invertebrate and vertebrate, such as birds, fish and crustaceans like the mangrove crab.

The Amazon mangroves are the most extensive and best preserved in the world, according to a study published last year in the scientific journal Anais da Academia Brasileira de Ciências. This is due to various factors, according to the authors, but mainly because of the forest cover around the estuarine areas.

But according to José Francisco Berrêdo, a geochemist and professor who has been studying the region's mangroves for 40 years, "mangroves respond to climatic variation, so a major [climate] change is a danger to the existence of mangroves," he says.


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Mais extensos do mundo, mangues amazônicos são ameaçados pelas mudanças climáticas

Unidades de conservação criadas na década de 2000 seguram avanço de atividades predatórias.


BRAGANÇA (PA) e ILHA DO MARAJÓ (PA)—Solo lodoso. Cheiro de enxofre. Árvores com as raízes altas, capazes de expelir o excesso de sal do solo. Em um primeiro momento, é difícil acreditar que haja uma exuberância de vida nos manguezais, mas eles são muito mais ricos em biodiversidade do que se imagina.

Em uma área que se estende por quase 8.000 km na costa norte do Brasil, do Amapá até o Maranhão, há florestas de mangues com árvores com até 40 metros de altura. Nesta região, os manguezais se transformam em um ecossistema rico e biodiverso.


Ave da espécie guará próxima à área de manguezal na praia de Caju-Una, na Ilha de Marajó. Imagem por Giovanna Stael/Folhapress.

Os manguezais são áreas onde há o encontro da água doce dos rios com o mar e compõem ecossistemas costeiros tipicamente tropicais, não existindo acima de uma determinada latitude onde há uma forte variação de temperatura.

Neles também vivem diversas espécies de animais, tanto invertebrados quanto vertebrados, como aves, peixes e crustáceos, como o caranguejo-uçá.

Os manguezais amazônicos são os mais extensos e bem preservados do mundo, segundo um estudo divulgado no último ano no periódico científico Anais da Academia Brasileira de Ciências. Isso se deve a diversos fatores, segundo os autores, mas principalmente pela cobertura florestal que recobre o entorno das áreas estuarinas.

No estudo, os autores estimam que menos de 1% de toda a sua extensão, que é cerca de 7.800 km2, sofreu devastação nos últimos anos.

"É maravilhoso você conhecer os mangues daqui, porque são realmente muito lindos", explica José Francisco Berrêdo, geoquímico e professor do Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém, que estuda os manguezais da região há 40 anos.

Ele cita a baixa densidade populacional na região e a presença de unidades de conservação ao longo da costa como principais fatores que explicam a conservação do ecossistema.

Já a biodiversidade elevada pode ser explicada pela presença de grandes rios, que desembocam na foz do Amazonas, possibilitando uma maior mistura de água doce e salgada, e a baixa densidade populacional.

Segundo Berrêdo, estudos com paleomangues (registros fósseis de manguezais), indicam que eles nem sempre estiveram ali. "O mangue responde a uma variação climática, por isso é um perigo para a existência dos mangues uma grande mudança [climática]", diz.

Marcus Fernandes, biólogo e coordenador do Lama (Laboratório de Ecologia de Manguezal) da UFPA (Universidade Federal do Pará), conta que há características que diferenciam os mangues amazônicos de outros espalhados pela costa do Brasil.

"No caso da amazônia temos uma riqueza de ecossistemas, o que o difere também dos manguezais do Nordeste e do Sudeste", explica. "Mas cada um responde a alguma particularidade, por isso estamos mapeando as espécies [de mangue] na amazônia e pensando em estratégias de variabilidade genética das populações e replantio em áreas que sofreram desmatamento", afirma Fernandes.

Imagem gentilmente cedida por Folha de S.Paulo.

Na corrida contra o tempo para proteger os mangues em meio à crise climática, políticas públicas como a criação de áreas de preservação ambiental pelo governo federal ajudam a manter essa floresta de pé. Porém, nos últimos anos, a atuação crescente da pesca predatória e a exploração humana na região têm pressionado os mangues amazônicos.

Uma das políticas que possibilitaram a preservação dos manguezais foi a criação, a partir da década de 2000, de unidades de conservação conhecidas como Resex (reservas extrativistas) abrangendo toda a costa paraense até o Maranhão.


Rogério Matos Souza é catador de caranguejo nos manguezais de Ajuruteua, uma vila de pescadores na região de Bragança, no Pará. Imagem por Giovanna Stael/Folhapress.

Existem atualmente 14 Resex na região, onde, segundo o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Biodiversidade), vivem 22 mil famílias em uma área de aproximadamente 369 mil hectares entre manguezal e lâmina d’água.

Ednaldo Gomes da Silva, gestor ambiental e chefe da área temática de proteção do Núcleo de Gestão Integrada de Bragança (PA) do ICMBio, ressalta a importância da criação das unidades de conservação na região como forma de garantir a preservação do ecossistema.

"Com a decretação desses quatro municípios, nós vamos fechar o corredor ecológico [nome dado a um contínuo de florestas] que vai aumentar ainda mais essa importância [dos manguezais]."

Vídeo por Folha de S.Paulo.

Segundo ele, além do maior controle das quantidades de recursos naturais extraídos da floresta, as Resex ajudam a manter a atividade extrativista em um patamar sustentável na região."

A relação [das comunidades nas Resex] com os manguezais é indiscutível, porque eles dependem daquele recurso e naturalmente preservam. É difícil existir casos de exploração do ribeirinho, do comunitário, que vai diariamente buscar ali seu alimento. Se esgotar para ele, ele fica sem seu sustento", diz.

A visão de que as populações habitantes nas Resex vivem em harmonia com os manguezais já é bem demonstrada desde antes da criação das unidades de conservação, explica a antropóloga e professora do programa de pós-graduação em Sociologia e Antropologia e pesquisadora do Núcleo de Ecologia Aquática e Pesca da UFPA Voyner Ravena."


Aves da espécie guará (Eudocimus ruber) voam próximo à área de manguezal na praia de Caju-Una, na Ilha de Marajó, no Pará. Imagem por Giovanna Stael/Folhapress.

Os manguezais são áreas onde há o encontro da água doce dos rios com o mar e compõem ecossistemas costeiros tipicamente tropicais. Imagem por Giovanna Stael/Folhapress.

As Resex, elas chegam como um conjunto legal de reordenamento do território que, de forma geral, acaba também retirando um pouco daquela história, do recurso pretérito daquela localidade, mas ela não deve nunca esquecer que existiam lideranças ali que antes, através de suas relações com a natureza, desenhavam, escolhiam, ditavam a forma como o território era utilizado pela população tradicional", explica.

Nesse sentido, a pesca predatória é a principal ameaça para os manguezais. "A pesca de arrasto do camarão [que tem forte impacto marinho] antes vinha com mais de 100, 120 espécies de fauna acompanhante [como são chamados os animais que vêm junto na captura]. Hoje, 15 anos depois, para uma tonelada de camarão rosa capturado, gira em torno de 60 espécies, ou seja, em menos de duas décadas, você diminuiu pela metade a diversidade", afirma.

Silva afirma que é indiscutível a redução nos estoques pesqueiros na região nos últimos dez anos. "Antes, em uma hora de pesca, trazia seu almoço, seu jantar. Agora, para fazer isso, tem que passar muito mais tempo [na pesca] e às vezes não traz nada", explica.


Nestes, existe uma diversidade de formas e de espécies animais invertebrados e vertebrados, como crustáceos, peixes e aves. Imagem por Giovanna Stael/Folhapress.

Diversas famílias na região Norte do país dependem dos manguezais para sua sobrevivência, com atividades como pesca do caranguejo e de camarão como principal fonte de renda. Imagem por Giovanna Stael/Folhapress.

Existem também relatos da importância cultural dos manguezais para esses povos, através de músicas e artes que refletem a abundância desse ecossistema. Imagem por Giovanna Stael/Folhapress.

Para Queren Lobo, mestre em sociologia e atualmente doutoranda em antropologia pela UFPA, a relação das populações pesqueiras com os manguezais vai além do alimento.

"Se expressa também nas letras de músicas, nas composições de carimbó, na estética e arte dessas comunidades. Tanto que a própria definição que hoje está na legislação do Snuc [Sistema Nacional de Unidades de Conservação] alcança essa dimensão."

As Resex são as únicas unidades de conservação que têm como objetivo preservar também as relações do homem com o meio ambiente, diz Lobo.

"Eles se veem como parte da natureza e disso se origina esse pensamento de cuidado, de zelo, de que é preciso cuidar para que futuramente eu possa pescar. É preciso usar o recurso de maneira adequada, para não faltar."


Na região, algumas árvores de mangue chegam a 40 metros de altura, se diferenciando bastante dos ambientes conhecidos como apicuns, que são mais rasteiros. Imagem por Giovanna Stael/Folhapress.

Pesquisadores que atuam na região veem com preocupação o avanço do desmatamento e a exploração de pesca e madeira nas áreas dos manguezais. Imagem por Giovanna Stael/Folhapress.

Se concretizado o interesse do governo brasileiro de explorar petróleo na Foz do Amazonas, especialistas temem que a perfuração dos poços —que ficam a cerca de 150 km da costa do Amapá— possa gerar impactos na região e afetar os organismos que usam os manguezais como berçário.

Berrêdo ressalta ainda a fragilidade dos ecossistemas naturais em razão das mudanças climáticas. "Se continuar a pressão nos manguezais, eles também podem uma hora desaparecer", finaliza.

Categorias de unidades de conservação brasileiras

Entenda a classificação segundo o Snuc (Sistema Nacional de Unidades de Conservação)- Unidades de Proteção Integral: com a finalidade de preservar a natureza, é admitido apenas o uso indireto dos recursos naturais, por isso as regras e normas são restritivas. Pertencem a esse grupo as categorias:

  • Estação Ecológica
  • Reserva Biológica
  • Parque Nacional
  • Refúgio de Vida Silvestre
  • Monumento Natural

- Unidades de Uso Sustentável: concilia a conservação da natureza com o uso sustentável de parte dos recursos naturais. Esse grupo é constituído pelas categorias:

  • APA (Área de Proteção Ambiental)
  • Área de Relevante Interesse Ecológico
  • Flona (Floresta Nacional)
  • Resex (Reserva Extrativista)
  • RF (Reserva de Fauna)
  • RDS (Reserva de Desenvolvimento Sustentável)
  • RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural)

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